Descrição
”Propor uma igreja solidária, e por isso profética, é propor uma comunidade que, fiel aos ideais do reino de Deus, possa através de sua prática, relativizar além dos valores dos outros os seus próprios. Relativizar as certezas que geram arrogância, diferenças, racismos, segregações; os dualismos/individualismos que geram desencontros e desconhecimentos. Relativizar a noção de corporeidade e desejo visto que somos humanos porque desejamos e corporificamos nossos desejos. É propor uma comunidade que ”reme contra a maré” do nosso tempo, que são marés extremamente poderosas por nascerem nas águas longínquas do iluminismo. Essas são as prerrogativas da igreja profética e solidária que pode emergir como contracultura, como fomentadora de valores esquecidos e vilipendiados pela cultura desumana vigente.
Para que a Igreja-instituição possa emergir como espaço cognitivo onde a sensibilidade solidária possa ser desenvolvida e, através da educação, transformada em ações permanentes de solidariedade, deve ousar relativizar a própria fé, já que esta não está, necessariamente, ligada apenas aos valores religiosos ou à religião. Promover a relativização da fé não quer significar desmistificá-la, roubar-lhe sua áurea mística, mas tão somente demonstrar seu conteúdo existencial de certezas e incertezas. A fé não pode ser puramente certeza, pois a certeza incondicional anula a esperança, e fé e esperança estão intimamente relacionadas.”