Descrição
Deus e Seu Decreto
A doutrina de Deus, às vezes chamada de teologia própria, ou teologia propriamente dita, é de suprema importância. Cada vez que mencionamos o nome de Deus, invocamos a Deus em oração ou escrevemos sobre Deus estamos supondo o significado da palavra “Deus”. Mas é necessário fazer mais do que simplesmente usar o nome de Deus e supor significado dele. Com efeito, Deus nos proíbe de usarmos o nome dele de forma vã ou vazia. Portanto, a doutrina de Deus é importante porque queremos falar de Deus e falar com Deus de uma forma que proteja e mantenha a reverência apropriada que Deus merece e exige de suas criaturas.
A doutrina de Deus é importante por outro motivo. Cipriano de Valera, o tradutor das Institutas de João Calvino para o espanhol, explica o motivo:
Há duas coisas que normalmente levam os homens a valorizar muito uma coisa. A primeira é a excelência da coisa em si mesma. A segunda é o benefício que recebemos ou esperamos receber a partir dela. Entre todos os dons e bênçãos que Deus, por sua misericórdia, continuamente concede aos homens, o principal, o mais excelente e o mais benéfico é o verdadeiro conhecimento de Deus e de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual traz grande alegria e paz para o coração dos homens nesta vida, e a glória e a felicidade na vida por vir. De forma que nesse conhecimento reside o maior bem e a principal bênção do homem, essa verdade é claramente manifestada por Jesus Cristo.
Cipriano se refere às palavras de nosso Senhor em João 17:3 “E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste”. Se a vida eterna depende de um conhecimento do único Deus verdadeiro através de Jesus Cristo, é impossível imaginar uma importância maior para a doutrina de Deus.
Deus não muda; portanto, a doutrina de Deus também não deve mudar. A história da igreja é rica em apresentações e defesas da doutrina de Deus. E nem mesmo nos dias da Reforma no século XVI a doutrina de Deus foi reformada, mas recebida, como evidenciado pelas várias confissões de fé produzidas naquele século, e no século seguinte. Em outras palavras, os reformadores e as igrejas reformadas consideraram a doutrina clássica da teologia própria suficientemente bíblica, fiel e digna de uma confissão comum. Infelizmente, em muitos casos, a igreja moderna ignora a herança histórica da doutrina de Deus e é muito rápida para alterá-la ou modificá-la. Muitas vezes, o resultado dessa ignorância geral é que alguém chega ao ponto de não saber que suas ideias são um desvio da doutrina da igreja.
Neste livro, meu desejo e intenção é apresentar a doutrina de Deus ensinada pelas Escrituras, defendida pela igreja através dos tempos e expressa nas confissões de fé dos reformadores e seus herdeiros, a doutrina de Deus na qual o homem encontra seu “principal bem e bênção”.
O escopo do livro é amplo, abrange a doutrina de Deus e o decreto de Deus, mas tentei limitar sua extensão à de uma introdução, ao me concentrar na apresentação positiva das doutrinas em vista. Para fazer isso, dividi o livro em três partes: A Unidade de Deus, A Trindade de Deus e O Decreto de Deus. Para aqueles que confessam a Confissão de Fé de Westminster (CFW) ou a Segunda Confissão de Fé Batista de Londres (CFB1689), essas divisões correspondem aos capítulos dois e três dessas confissões. Nesta obra, incluí, tanto quanto possível, citações da literatura da tradição reformada, pois confesso com alegria que estou em profunda dívida para com os mestres cristãos do passado. Seus métodos de organização e expressão moldaram, em grande parte, minha própria apresentação. Atualizei a ortografia dessas citações, sem alterar as palavras.
Que Deus abençoe cada leitor deste livro. E que Deus proteja sua preciosa verdade de qualquer erro meu, seja ele teológico ou qualquer outro.