Descrição
Novas Leituras Do Campo Religioso Brasileiro
A noção de “Campo Religioso Brasileiro” se consolidou nas
Ciências Sociais voltadas para o estudo do fenômeno religioso
no Brasil em torno dos anos 1990 a partir da influência da teoria
de Pierre Bourdieu (da produção e consumo de bens religiosos
por agentes/consumidores e das relações de concorrência entre
instituições produtoras de capital religioso). Aqui ela ganhou
uma dimensão maior, procurando estabelecer uma
comensurabilidade entre as religiões que compõem o panorama
religioso diverso no Brasil. Nesse particular, a reflexão de
Pierre Sanchis foi marcante ao circunscrever a dinâmica das
religiões no país, na chave da prémodernidade, modernidade e
pósmodernidade. Ou seja, na perspectiva da “sociogênese” da
nação produziuse uma matriz religiosa sincrética a partir das
porosidades entre o catolicismo colonial e as religiões
africanas/ameríndias que vai se confrontar/complementar tanto
com as novas religiões que vão aportar ao país – protestantes,
espíritas, pentecostais etc. –, quanto com as tendências
modernas do individualismo, escolha e pertença exclusiva.
Nesta senda aberta por Sanchis, alguns autores como Carlos
Rodrigues Brandão, Carlos Steil, José Jorge de Carvalho e eu
mesmo desenvolveram reflexões sobre o campo religioso no
Brasil em torno das tensões e complementações entre tradição,
modernidade, hegemonia religiosa e pluralismo.
O livro agora organizado por Emerson Sena e Flávio Sofiati
vem propor “novas leituras” deste campo empírico/teórico,
realizadas por cientistas sociais de uma “nova geração”. Ao
revisitar o tema, os autores da “nova geração” retomam
abordagens já desenvolvidas pela geração anterior como
constitutivas do campo religioso brasileiro: erudito x popular;
institucionalização x desinstitucionalização, sincretismos,
trânsitos e/ou competições e conflitos. Introduzem novos atores
como o islã no Brasil, novas perspectivas globalizadas como a
relação com países europeus (Portugal), ampliam a dinâmica
das interações para a esfera pública: Estado, política, e para a
esfera dos costumes e da cultura pósmoderna: a juventude, o
turismo, a mídia, a internet, a ecologia. Por fim, cada autor, em
seu capítulo, explicita os referenciais teóricometodológicos que
conduziram sua pesquisa sobre os grupos religiosos, assim
como o próprio percurso da pesquisa. Aqui, um cuidado típico
de quem concluiu nos últimos anos suas teses de doutorado, e
que apresentase de grande utilidade ao leitor.
Por fim, como um representante da “velha geração” que teve
entre os autores da obra, orientandos ou alunos, cujas teses
examinei em bancas de doutorado, sublinho a criatividade e o
rigor presente nos capítulos, que, sem dúvida, reatualizam e
inovam as pesquisas sobre o campo religioso brasileiro