Descrição
O Deus Peregrino e a Igreja Virtual
Há pouco mais de quarenta anos, em uma pequena igreja batista no pico de uma colina, o autor deste livro, ainda criança, manteve os seus primeiros contatos com o culto coletivo. A igrejinha, construída com madeira, foi herança de uma junta de missionários norte-americanos.
A membresia da igreja era constituída por não mais de cinco famílias, radicadas no mesmo bairro há vários anos. O sentimento de ajuda mútua era uma constante, em perseguição à orientação cristã de fazer o bem a todos, com especial cuidado para com os domésticos da fé.
Nos intervalos dos cultos, as crianças brincavam no quintal da igreja. Brincadeiras típicas da época: Pique e esconde; bola de gude; amarelinha; pega-pega etc. Os adolescentes e jovens lançavam-se em aventuras amorosas no pátio. Os adultos dialogavam sobre questões religiosas e o que se fazia necessário para a melhoria do bairro e as dificuldades existenciais provocadas pelo alto custo de vida imposto aos empobrecidos.
Mas, havia uma característica inesquecível da igreja da colina. O vento que sentíamos no rosto era uma espécie de afeto natural daquele local. Quando estávamos dentro do templo, o vento “cantava” em nossos ouvidos pelas frestas das portas e janelas e, na mente imaginativa das crianças, parecia que o vento também cultuava conosco. Era ele que dava o tom para os hinos que eram entoados. A mensagem pregada pelo dirigente (normalmente um pastor interino) era acompanhada pelo sussurro da ventania.
Ao término do culto da manhã, era costume as pessoas participarem de um lanche coletivo que, por vezes, era substituído por um almoço, bondosamente preparado por um grupo de irmãos que se empenhavam com a criação de oportunidades para a comunhão dos membros daquela comunidade de fé. Tempos e experiências maravilhosos, que somente a presença física pode proporcionar.
As memórias acima, não existiriam na hipótese da não existência física da igrejinha do pico da colina. Caso fosse ela uma igreja virtual, outras memórias seriam formadas na consciência deste autor. Mas, por certo, seriam destituídas do toque, do abraço, dos sabores, das sensações causadas pelo frescor do ambiente. Quando pensarmos em organizações religiosas virtuais será preciso considerar tais perdas decorrentes da comunhão e da proximidade física.
Contudo, com o passar do tempo novos desafios surgem. E, a virtualização da realidade, em tempo acelerado (e, por vezes, insano) tem-se tornado um fato concreto a ser alvo de nossas reflexões. Eis o objeto deste livro.