Descrição
Os Batistas e o Resgate da Tradição Cristã
Com o avanço da tecnologia e do mundo midiático, passamos a valorizar o novo e olhar com descaso para o que é antigo. Nossos dedos deslizam sobre as telas sempre renovando nossas ideias. A suspeição da tradição vem também de mãos dadas com as revoluções culturais. A beleza de um livro como o que você tem em mãos decorre do fato de que não se trata de um apontamento para frente, para o futuro. Não, o presente livro nos convida a sentarmos na sala de aula dos santos e aprender com eles. Aprender que nossa fé não nasceu hoje, nem ontem, mas que tem um lastro. Essa fé pertence a nós e a nossos pais. Os batistas podem olhar para a “fé de nossos pais” e, prontamente, rejeitá-la. Afinal, não somos nós a congregação dos regenerados? O livro ensina belamente que a herança é parte recebida, e não imposta. Entretanto, isso não invalida o fato de que a fé é também herança.
Os batistas sempre advogaram pela liberdade de consciência. Afinal de contas, esse é um distintivo denominacional. Entretanto, essa liberdade não quer dizer que os batistas devam negligenciar a tradição cristã. As Escrituras continuam a ser norma normans (a norma que governa), mas a tradição cristã é a norma normata (a norma regida). Perceba que, apesar de a tradição não usufruir o mesmo padrão das Escrituras, ela em si também é uma norma. Isso quer dizer que estamos sempre medindo nossos pensamentos e interpretações de acordo com a tradição cristã.
Neste livro, você ganhará um companheiro que não falará de tradição em termos abstratos. Afinal, não se respeita a tradição somente por ser tradição. Por exemplo, o capítulo de R. Lucas Stamps aborda a cristologia batista. Essa cristologia não surge ex nihilo, pois a fé que se afirma em Jesus Cristo é o Jesus Cristo tal como resumido nos credos de Niceia e Calcedônia. A fé antiga da forma como é resumida nos credos é simplesmente um julgamento sobre as Escrituras para que não se tenha de fazer sempre de novo toda a exegese antiga. Dessa forma, revestimos os credos de uma autoridade para que possamos prosseguir construtivamente rumo às nossas ações morais. Essa autoridade nunca é final, mas, como goza de séculos de respeito, nosso caminhar em direção a ela é respeitoso e contente. Diferentemente do zeitgeist atual, não olhamos para a fé de nossos antepassados com desconfiança, mas com alegria. E essa alegria é contínua, mesmo quando se vê em necessidade de reforma. Como diz Matthew Emerson neste livro, embora o credobatismo consista em uma ruptura com a prática tradicional da igreja, é através dessa reforma que a igreja permanece fiel. Ou seja, o credobatismo não é uma rejeição ao batismo da igreja, mas um chamado a uma maior fidelidade bíblica. É um chamado a ouvir a voz de Cristo da forma como ela é pronunciada.
O chamado do livro é para apreciarmos a herança batista. Como um jovem que não conhece a história de seus antepassados e, assim, a negligencia, assim foram os batistas por muitos anos. Mas é comum vermos que, com a maturidade, ansiamos por compreender melhor nossos hábitos e passamos a buscar algumas curiosidades de nossas histórias. Hoje em dia, não é incomum ver pais e avós investigando sua ancestralidade com serviços de DNA. Por que isso ocorre? Ora, parece que, quando se esvai aquele impulso jovem inicial de querermos determinar o próprio futuro, atingimos um ponto em que desejamos compreender por que chegamos até ali. Creio que assim se passa com muitos batistas. O tempo irá convocá-los para si. Eles não verão a si mesmos somente como separatistas. A realidade é que separatismo e biblicismo podem parecer honrosos prima facie, mas, no fim, ambos confiam na independência intelectual do homem e têm muito a ver com antropologia iluminista. Uma antropologia que é demasiadamente confiante na capacidade moral e intelectual de investigação humana.
É comum, nos círculos de igrejas históricas tradicionais, ver certo esnobismo antibatista, como se os batistas não pudessem participar do lastro histórico da tradição cristã. Contudo, esse esnobismo pode acabar se houver uma leitura cuidadosa deste livro. Aqui estão alguns dos jovens teólogos mais promissores dos Estados Unidos, como Patrick Schreiner e Rhyne Putman, além de outros que já gozam de respeito na academia em geral (Michael Haykin e Christopher Morgan). É inclusive nessa mescla santa que encontramos a sabedoria da igreja. Uma sabedoria que nem despreza a juventude nem se esquece de seus anciões.
— Rafael N. Bello,
The Southern Theological Seminary