Descrição
Esse livro nos alerta para a relação entre hermenêutica e linguagem mitológica. O que o espanta e que também acabou me espantando é a limitação sofrida pelo processo hermenêutico no projeto da desmitologização. Bultmann ”propõe a interpretação existencialista como única saída”. Voltando à busca da chave, a desmitologização acabou me conduzindo ao quarto escuro da racionalidade. A desmitologização botou o mito a perder. É por isso que esse livro recorre com muita vivacidade ao pensamento de Ricoeur. Dei-me conta de que na época existencialista me deixara seduzir pela linguagem de Bultmann tomada, como se sabe, do primeiro Heidegger. Mas me faltava perceber o caráter contraditório de sua proposta. Tentando combater o ceticismo da modernidade, transformou o mito em sistema de salvação, regido pela análise da existência e das deduções racionais, eliminando o caráter sagrado e misterioso da realidade. Segundo Ricoeur, o mito é dado para ser pensado. Mas o pensamento provocado pelo mito não abandona o mito como se fosse apenas mero alicerce para seu desenvolvimento. O mito transforma-se em rito e passa a ser celebrado em formas litúrgicas onde a arte assume o primeiro lugar.
Jaci Maraschin (in memorian)
Prof. do programa de Pós-graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo.